Fonte: CM de Sintra Para aumentar clique na imagem
“Hospital de proximidade de Sintra, mais dúvidas que certezas”!!!
Citação ...
Foi assinado em Sintra o protocolo que, se não tiver o mesmo
destino que outras promessas dos últimos 30 anos, resultará na construção de um
Hospital de Proximidade em Sintra!
(atenção á data do artigo) 28 de junho de 2017 - André Beja
Para que conste: André Beja - o autor deste artigo é Enfermeiro,
Investigador de Políticas de Saúde, e Candidato do Bloco de Esquerda à
Assembleia Municipal de Sintra!
Trata-se de uma obra de grande envergadura que a Câmara de
Sintra, excedendo as suas competências e tentando tirar dividendos eleitorais,
irá pagar, permitindo à população aceder a um equipamento que, desde há muito
tempo, anseia.
A decisão por determinado tipo de hospital não é fácil.
Implica custos, mobilização de meios para construção e financiamento e toda a
gestão de uma população e território. Deve ser feita de acordo com as
necessidades identificadas e previstas, sempre em articulação com os recursos e
a capacidade de resposta já existentes numa determinada região.
O protocolo foi previamente discutido pelos órgãos
autárquicos. Neste artigo fazemos uma análise à documentação que foi tornada
pública, esclarecendo alguns aspetos e identificando vantagens e desvantagens
na solução apresentada, bem como algumas questões por responder e opções que
ficam pouco claras.
Afinal o que é um hospital de proximidade?
A ideia de "Hospital de Proximidade" surge ligada
à da existência de Serviços de Saúde e de Apoio Social acessíveis aos cidadãos.
Trata-se de unidade de retaguarda para utentes em convalescença e para dar
resposta a solicitações oriundas dos cuidados primários (centros de saúde),
nomeadamente ao nível das consultas de especialidade – chama-se a isto Cuidados
Continuados Integrados.
É uma novidade em Portugal, onde existe um hospital destes
em Lamego, inaugurado em 2013, e outro projetado para Seixal. São realidades
distintas de Sintra, no que respeita à área e à população abrangidas, pelo que
a comparação com estas unidades se torna difícil.
É uma necessidade que o país tem, há muitos utentes
internados em enfermarias hospitalares que poderiam ser transferidos para este
tipo de unidades, libertando recursos para outros que deles necessitam mais.
Disponibilizar camas no Hospital Fernando da Fonseca (HFF), garantindo
acompanhamento de qualidade numa unidade mais pequena permitirá gerir melhor os
recursos daquela unidade.
Por outro lado, o país também necessita de serviços para
cuidados paliativos, para dar resposta a pessoas em fim de vida, quando a perspetiva
da cura já não é realista e é preciso prestar cuidados e conforto a nível
físico e emocional a utentes e familiares.
Uma escolha que deixa várias questões em aberto !!!
Não se compreendem os critérios pela opção do Hospital de
Proximidade para o concelho de Sintra. Será uma unidade útil e importante, mas
não se sabe se, realmente, responde às necessidades. Dizer, como tem feito
Basílio Horta, que é a única possível é fugir a uma escolha que deve ser
pautada pela racionalidade e por dados concretos.
Nunca foram disponibilizados a autarcas e cidadãos/ãs
estudos que justifiquem a construção de um hospital com estas dimensões e estas características. Até podem existir, mas o facto de não serem conhecidas as
razões da escolha torna todo o processo opaco.
Por outro lado, eis o despacho que criou, e determina a
composição de um Grupo de Trabalho para a elaboração do estudo tendente à
criação do Polo Hospitalar de Sintra, designado por Grupo de Trabalho do Polo
Hospitalar de Sintra!
Já definia o perfil do hospital!!!
Ou
seja, o grupo que deveria “coordenar a elaboração do estudo tendente à criação
do Polo Hospitalar de Sintra” estava condicionado à partida por uma decisão da
tutela.
Aspetos positivos, omissões e dúvidas do protocolo!
A informação disponível permite identificar alguns aspetos
positivos do projeto, tais como a localização perto de vias de acesso e
possibilidade de ampliação do edifício para responder a necessidades futuras.
Outro aspeto positivo prende-se com a previsão de alguma
autonomia na realização de exames complementares de diagnóstico, nomeadamente
ao nível da imagiologia, ou a horário alargado de funcionamento das consultas
externas.
O protocolo é rico em omissões e aspetos que ficam pouco
claros, situações que no futuro se poderão revelar uma desilusão ou traduzir
num sentimento de desilusão ou de descontentamento.
O Ministério da Saúde vai fazer alguma compensação à Câmara
de Sintra pela oferta do edifício?
A Câmara terá alguma palavra a dizer sobre
decisões futuras do governo sobre estas instalações e esta unidade hospitalar?
Não se fala de dimensão do quadro de pessoal nem da sua
relação com o Hospital Fernando da Fonseca - estarão destacados?
Haverá equipas
autónomas?
Não é apresentado horário de funcionamento da urgência
Básica, quais as características físicas deste serviço e da equipa que assegura
o seu funcionamento (será exclusiva? os médicos virão da Amadora?).
Não são esclarecidos os circuitos de transporte e circulação
de utentes entre hospitais da Amadora e de Cascais quando este for necessário!
E há também dúvidas que têm de ser desde já colocadas e que
deveriam não só ter resposta antes da construção do hospital como motivar o
redimensionamento do projeto.
Imaginemos um surto de gripe (ou outra situação) com elevada
afluência à urgência básica e necessidade de internamento de utentes, como se
procede?
Internamento na Amadora e em Cascais?
Vamos andar numa via vem no IC19 e na A16?
Quem paga?
Existirão 4 blocos para cirurgias em ambulatório – são a
menos?
São a mais?
Que critérios justificam esta dimensão?
As equipas cirúrgicas vão ser do hospital ou são dos outros
hospitais e vêm fazer uma "perninha" a Sintra?
Nos casos em que há necessidade de intervenções cirúrgicas
mais complexas, todo o processo pré e pós-operatório será feito em Sintra,
sendo usados os Blocos dos Hospitais de referência!
Quem paga deslocações?
Será esta a solução para as listas de espera no HFF?
Será que 60 camas para cuidados continuados e paliativos são
o suficiente para responder a uma população tão extensa e numa área onde
praticamente não há oferta pública a este nível?
Por fim, há um aspeto que, pelos contornos que apresenta, se
pode classificar como folclóricos: o anúncio de que será uma unidade voltada
para a formação e ensino!
Na propaganda que tem feito ao hospital, a Câmara de Sintra
tem dado muito destaque ao facto desta unidade ser voltada para a formação e
ensino, mas os equipamentos apresentados para este fim são aqueles que umas
empresas/instituições desta dimensão deverão ter para garantir um normal
funcionamento. Não é apresentada a intenção clara deste ser um pólo de ensino e
investigação de referência, articulado com universidades e escolas
profissionais.
Ou seja, muita parra e pouca uva!
Em jeito de conclusão !!!
Como já vimos, a opção minimalista até pode ser a melhor,
mas não está claramente justificada. Isto não significa estar contra a
existência de uma unidade hospitalar em Sintra ou, como tem sido hábito, querer
que a decisão seja adiada para dia de S. Nunca. Por outro lado, a opção
maximalista – hospital com tudo e mais alguma coisa – também carece de sustentação
técnica!!!
A urgência de solução do problema não apaga o facto de a
decisão estar a ser tomada de forma pouco clara e, provavelmente, pouco
satisfatória para as necessidades da população. O concelho de Sintra merecia
menos foguetório pré-eleitoral e mais consideração por parte das autoridades do
país.
O mal menor, usado como argumento de autoridade por Basílio
Horta, conforta o PS e, provavelmente, os grupos privados que têm interesses no
concelho.
Mas não convence!!
Artigo publicado em: http://sintra.bloco.org/beja/hospital-de-proximidade-de-sintra-mais-duvidas-que-certezas/1818
Fim de citação
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