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(Cito) - Artigo de: Nuno Da Silva Jorge
É uma retórica que mostra tudo o que está errado numa
determinada forma de estar política.
Tudo o que está a acontecer em Sintra é grave, mas grave é
também olhar para esta governação e perceber que passa ao lado de todos os bons
exemplos de liderança política em situações de crise.
Tive o privilégio de estar nos Estado Unidos da América e
acompanhar com atenção como Barack Obama lidou com a crise do furacão Sandy. Vi
como estava ao lado de quem mais precisava e lutou com todos os meios para
proteger populações pobres, comunidades desfavorecidas, e teve uma mensagem
honesta e de esperança.
Foi uma lição de liderança, de comunicação de crise e de
ação política. Vi como ajudou a governação republicana de Chris Christie. E vi
como todos os esforços foram feitos para que as pessoas estivessem informadas,
soubessem como deveriam agir, e tivessem os meios adequados para se protegerem.
A liderança durante o furacão Sandy marcou-me a memória. “É
isto que um político deve de ser” - pensava. E, de certa forma, marcou a minha
atuação política. Estar do lado de quem precisa, para que juntos seja possível
construirmos o mundo que sonhamos.
E é esta imagem que contrasta com o que se passa em Sintra.
A narrativa de Basílio Horta é outra. É centrada em si, que faz tudo bem e que
a culpa é sempre dos outros.
Quando olho para esta atuação, nesta fase difícil que um concelho
que me é particularmente querido atravessa, não posso deixar de notar que a
linha de discurso do presidente de câmara contrasta brutalmente com a postura
exemplar que encontrei em Barack Obama.
Primeiro, Basílio negou o problema. Disse que Sintra estava
bem e até tinha orgulho nos números. Partilhava no Facebook que nada se passava
e que éramos um dos melhores concelhos no “campeonato do COVID”. Isso apenas
atrasou a capacidade de resposta e, sabemos, numa crise os atrasos saem sempre
caros.
Depois, implementou tarde um conjunto de medidas
insuficientes e despropositadas. Ao contrário de Oeiras, Cascais e Mafra, não
colocou os devidos meios, não distribuiu máscaras suficientes a quem precisava,
não facilitou o acesso a equipamento de proteção, não comprou máquinas para
produzir máscaras. Não tem a Câmara Municipal de Sintra 170 milhões de euros no
banco. Qual é a desculpa?
Agora, coloca a culpa nas pessoas, chamando-lhes pobres,
imigrantes e ignorantes. A culpa é sempre do outro. É da contagem da DGS, é do
desconfinamento, é das pessoas, é do tamanho do concelho. A culpa nunca é do
presidente de câmara.
Entre o “está tudo bem”, a política do “faz de conta” e o “a
culpa é dos outros”, há um narcisismo brutal em todo o discurso político de
Basílio. O “Rei Sol” de Sintra, que, adaptando as palavras de Luís XIV, age e
afirma “O concelho de Sintra sou eu”.
Porque Basílio quer, pode e manda. Os seus súbitos têm de
obedecer, como que, à semelhança de um regime feudal onde os camponeses
obedecem e se expõem a todos os males, também os cidadãos do segundo maior
concelho do país são reféns do seu senhor despótico, que gere os seus destinos
do alto do seu castelo.
As atitudes de Basílio Horta são conhecidas. Basta ver a
entrevista que deu à TVI 24 para percebermos como vê as pessoas que jurou
servir. Para Basílio é um concelho de “gente pobre”, que “precisa de ir ganhar
o pão”, “imigrantes e etnias mal formadas”.
Ficamos a saber que, para Basílio, o segundo maior concelho
do país não é um concelho de gente de segunda, é de gente de quinta ou sexta
categoria. Mas, não basta ter menos rendimentos, viver na selva de betão
visionada por Edite Estrela, também tem de ser estigmatizada pelo seu
governante. “É o povo que temos” - para usar uma frase o nosso conhecido Jerónimo
de Sousa.
O contraste da governação pode ser encontrado nas medidas
que Basílio optou não por tomar, e que outros concelhos que rodeiam Sintra
tomaram; mas também na defesa de que os governantes fazem das suas pessoas.
Veja-se como Salvador Malheiro tudo fez para travar o surto em Ovar, estando ao
lado das pessoas, estando na linha da frente para a junta sanitária que foi
formada. Mas compare-se também com as palavras de Rui Moreira, que obrigou a
TVI a um pedido de desculpas por ter insinuado que pobreza e falta de educação
estavam na origem do surto de COVID na cidade do Porto.
Compare-se as lideranças. Compare-se também os resultados. É
nos momentos difíceis que se vê a qualidade da governação. O que se espera de
um presidente está invertido, como se estivéssemos a conduzir numa autoestrada
em sentido contrário.
A negação, o faz de conta e a culpabilização do outro está,
em Sintra, à vista para quem quiser ver.
Fim de citação
Blog “A Postura” - Existem momentos na vida da gente, em que
as palavras perdem o sentido ou parecem inúteis e, por mais que a gente pense
numa forma de empregá-las, elas parecem não servir.
Então a gente não diz, apenas sente!
(autor desconhecido)